A esteatose hepática, também chamada de fígado gordo, é uma doença, como próprio nome indica, provocada pelo acúmulo de gordura nas células do fígado.
A esteatose hepática é um problema que, se não controlado adequadamente, pode evoluir para esteato-hepatite e, posteriormente, para cirrose. Porém, felizmente, só uma minoria dos pacientes com esteatose hepática acaba por progredir para a cirrose.
Várias são as causas de esteatose hepática e esteato-hepatite, sendo o consumo excessivo de álcool, a obesidade e o diabetes as principais.
Por ser uma doença silenciosa, que não provoca sintomas, o número exato de pessoas que sofrem acumulação de gordura no fígado é subestimado. Acredita-se que até 1 em cada 3 pessoas possa ter esteatose.
Portanto, apesar da esteatose ser uma doença benigna na grande maioria dos casos, se não tratada, é possível que a doença evolua de forma desfavorável. Portanto, todo paciente diagnosticado com esteatose hepática e, principalmente, esteato-hepatite deve iniciar tratamento especializado para tentar reverter a acumulação de gordura.
O que é esteatose hepática?
O termo hepático tem origem grega e significa fígado. Esteato é o termo que indica relação com gordura. Portanto, esteatose hepática significa literalmente fígado gorduroso ou fígado gordo.
Nosso fígado possui normalmente pequenas quantidades de gordura, que compõe cerca de 10% do seu peso. Quando o percentual de gordura excede esse valor, estamos diante de um fígado que está acumulando gordura.
Há algumas décadas acreditávamos que acumulação de gordura no fígado era causada apenas pelo consumo exagerado de bebidas alcoólicas, e que a presença da esteatose hepática era necessariamente algo danoso à saúde. Atualmente sabemos que a esteatose hepática é muito comum e pode ser causada por diversas outras condições que não a ingestão crónica de álcool.
Quanto maior e mais prolongado for a acumulação de gordura no fígado, maiores são os riscos de lesão hepática. Quando há gordura em excesso e por muito tempo, as células do fígado podem sofrer danos, ficando inflamadas. Este quadro é chamado de esteato-hepatite ou hepatite gordurosa. A esteato-hepatite é um quadro bem mais preocupante que a esteatose, já que cerca de 20% dos pacientes evoluem para cirrose hepática.
A principal causa de esteato-hepatite é o consumo de bebidas alcoólicas. Em geral, dividimos os casos entre esteato-hepatite alcoólica e esteato-hepatite não alcoólica.
Portanto, a esteatose hepática é um estágio anterior ao desenvolvimento da esteato-hepatite, que como o próprio nome diz, nada mais é que uma hepatite causada por excesso de gordura.
Sintomas das esteatose hepática
A esteatose hepática não causa sintomas. Normalmente, o diagnóstico é feito acidentalmente através de exames de imagem, como ultrassonografias ou tomografias computadorizadas solicitadas por outros motivos.
Alguns pacientes com esteatose hepática queixa-se de fadiga e sensação de peso no quadrante superior direito do abdômen. Não há evidências, entretanto, que esses sintomas estejam relacionados ao acúmulo de gordura no fígado. Há pacientes com grau avançados de esteatose que não apresentam sintoma algum.
As análises laboratoriais servem para avaliar o grau de lesão do fígado através das chamadas enzimas hepáticas (TGO e TGP ou AST e ALT) e de outros marcadores de doença do fígado, como a Gama GT. Na esteatose hepática, as enzimas do fígado estão normais, enquanto na esteato-hepatite há aumento das mesmas.
Graus de esteatose hepática
Geralmente é possível quantificar a quantidade de gordura acumulada no fígado através da ultrassonografia.
- Esteatose hepática grau 1 (esteatose hepática leve) quando há pequeno acúmulo de gordura,
- Esteatose hepática grau 2 quando há acúmulo moderado,
- Esteatose hepática grau 3 quando há grande acúmulo de gordura no fígado.
Essa graduação não tem muito peso, uma vez que o mais importante é a presença ou não de inflamação no fígado. O paciente pode ter esteatose grau 3 e não apresentar inflamação hepática, mesmo após 20 anos de acúmulo de gordura, o que o coloca sob baixo risco de evolução para cirrose.
Conduta nutricional
A doença do fígado gordo danifica o fígado e impede que ele funcione tão bem como deveria e uma das principais formas de tratar a esteatose hepática, independentemente do tipo, é com dieta.
Em geral, a dieta inclui:
- Muitas frutas e vegetais
- Ingestão elevada de fibras, como legumes e grãos inteiros
- Muito pouco açúcar adicionado, sal, gordura trans, carboidratos refinados e gorduras saturadas
- Sem álcool
Apesar de não haver uma dieta específica para o paciente com esteatose. Porém, a sua alimentação deve ser equilibrada de forma a facilitar a perda de peso, o controle da diabetes e do colesterol. Deve se portanto, evitar fritos, excesso de gorduras e doces.
Dietas ricas em gordura saturada, gordura trans (Hidrogenadas) e excesso de açúcar têm sido associadas a um maior risco de desenvolvimento de gordura no fígado. Bebidas, em especial as destiladas, e comidas ricas em açucar (refrigerantes, certos molhos e doces em geral) também serão prejudiciais.
Frutas, cereais, legumes, verduras, gorduras poli-insaturadas (como o azeite) são alimentos saudáveis que devem fazer parte da dieta de qualquer pessoa, mas, principalmente, de diabéticos, cardiopatas e indivíduos com esteatose.
Se come muito pão, dê preferência ao pão integral ou de farinhas especiais ou biológicas, Bebidas vegetais, como aveia, soja, amêndoa ou tudo que seja magro, é o mais indicado. Entre as carnes, o peixe é a melhor opção, principalmente salmão (selvagem), cavala, sardinha e atum por vezes; tendo como opção alternante as aves (retirar a gordura).
Alimentos que deve comer
Café para diminuir as enzimas anormais do fígado
Beber café é um ritual da manhã para muitas pessoas, e para quem sofre de fígado gordo pode ajudar a sua condição.
Estudos (1) demonstraram que os apreciadores de café com esteatose apresentam menos danos no fígado do que aqueles que não bebem esta bebida com cafeína. A cafeína parece diminuir a quantidade de enzimas hepáticas anormais de pessoas em risco de doenças hepáticas (2).
Como um relatório em Annals of Hepatology apontou, o café contém ácido clorogênico, que é um composto potente conhecido por ter propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Também ajuda a reduzir o colesterol e a hipertensão arterial.
Além deste composto benéfico, o próprio café parece ajudar a proteger o organismo da doença esteatose hepática não alcoólica. Adicionar café à rotina da manhã pode ser uma excelente adição à dieta de fígado gordo de uma pessoa.
Vegetais para evitar acumulação de gordura
Comer mais vegetais, como espinafre, couve de Bruxelas e couve, brócolos também pode ajudar com a perda geral de peso e beneficiar ao fígado gordo pela quantidade de fibras que estes alimentos aportam ao organismo.
Um artigo no Journal of Nutrition descobriu que o consumo de brócolos a longo prazo ajudou a prevenir o acúmulo de gordura no fígado de camundongos (3). Os pesquisadores ainda precisam realizar mais estudos sobre humanos, mas esta evidência inicial parece muito promissora.
Tofu para reduzir a acumulação de gordura
Um estudo da Universidade de Illinois (4) em ratos descobriu que a proteína de soja, que está contida em alimentos como o tofu, pode reduzir a acumulação de gordura no fígado. Além disso, o tofu é baixo em gordura e rico em proteínas.
Nozes para melhorar o fígado
As nozes são altas em ácidos gordos ómega-3 e uma óptima adição a qualquer plano alimentar. E estudo demonstra que as pessoas com fígado gordo não alcoólico que comem nozes melhoraram a função hepática. (5).
Abacate para ajudar a proteger o fígado
Os abacates são ricos em gorduras saudáveis, mas também contêm nutrientes anti-inflamatórios e fibras solúveis, o que pode ajudar a reduzir o açúcar no sangue e o stress oxidativo no organismo.
Estudo apresentado no Science Daily (6) revelam que pesquisadores do Japão descobriram que os abacates contêm substancias químicas que podem reduzir e prevenir danos no fígado para além de ajudar no controlo de peso.
Além de beneficiar o fígado, são ricos em vitaminas E e C, ricas em fibras e potássio, e contêm grandes quantidades de folato, uma vitamina que ajuda a reduzir os defeitos congénitos em mulheres grávidas.
Apesar de serem ricos em gordura, grande parte dessa gordura é monoinsaturada (gordura saudável), o que demonstrou reduzir também os níveis de colesterol.
Chá verde para absorção de menos gordura
O uso de chá com fins medicinais é uma prática que remonta a milhares de anos.
Em pesquisas (7) recentes no World Journal of Gastroenterology sugerem, o chá verde, especialmente, pode ajudar a reduzir a porcentagem de gordura corporal e reduzir a deposição de gordura no fígado e melhorar a função hepática. Os níveis antioxidantes elevados no chá verde também podem ser úteis. Como, de baixar o colesterol e ajudar no sono.
Alho para ajudar a reduzir o peso corporal
Esta raiz não só adiciona sabor aos alimentos, mas estudos experimentais também mostram que os suplementos em pó de alho (7) podem ajudar a reduzir o peso corporal e a gordura em pessoas com doença hepática gordurosa.
O alho é um alimento básico em muitas dietas e pode ser benéfico para pessoas com doença esteato-hepatite não alcoólica. Um estudo da Advanced Biomedical Research descobriu que os suplementos em pó de alho parecem ajudar a reduzir o peso corporal (8) e a gordura em pessoas com fígado gordo.
Perda de peso
A medida mais eficaz para controlar a esteatose hepática é a perda de peso. Estudos mostram que uma redução de apenas 7% no peso corporal pode ser capaz de trazer excelentes resultados. Portanto, uma pessoa obesa ou com sobrepeso, que pesa ao redor de 80 quilos, precisaria perder cerca de 5 quilos para conseguir apresentar regressão do acumulo de gordura hepática.
Em geral, a prática de atividade física e um controle do consumo de calorias de forma a perder entre 0,5 e 1 kg por semana. Perdas muito rápidas de peso, provocadas através de dietas muito rigorosas, podem ter efeito contrário, agravando a esteatose. Não é preciso ter pressa. Um emagrecimento lento, mas definitivo, é a melhor forma de combater a esteatose.
A perda de peso, obviamente, só funciona para aqueles indivíduos obesos ou com sobrepeso. Pessoas com com índice da massa corporal (IMC) normal, ou seja, entre 20 e 25 kg/m2, não apresentam grande benefícios, pois a causa da sua esteatose não é o excesso de gordura corporal.
Peixe para inflamação e níveis de gordura
Os peixes gordos, como o salmão, as sardinhas, o atum e a truta são ricos em ácidos gordos ómega-3.
Uma revisão da pesquisa actual (9) sugere que os ácidos gordos ómega-3 melhoram os níveis de gordura hepática e níveis de colesterol HDL em pessoas com esteatose hepática.
Pesquisas confirmaram que os ácidos gordos ómega 3 apresentaram redução de eventos cardiovasculares em grupos controlados de indivíduos, tais como morte devido a um ataque cardíaco. Dessa forma, o tratamento com o ómega 3 pode ser adequado para pacientes com esteatose hepática não alcoólica e síndrome metabólica, já que estes pacientes apresentam alta incidência de mortalidade por doença cardiovascular.
Doença cardiovascular
Pacientes com esteatose hepática apresentam maior risco de doenças cardiovasculares, por isso, o controle dos fatores de risco é essencial para diminuir o risco de complicações cardíacas. Perda de peso, pratica de atividade física, controle dos níveis da pressão arterial, parar de fumar e uso de estatinas (medicamentos para controlar o colesterol) são medidas que devem ser instituídas sempre que necessário.
O uso de medicação para controlar o colesterol não atua diretamente sobre a esteatose, mas ajuda a diminuir o risco cardiovascular destes pacientes. Se o paciente tem colesterol alto, a presença de esteatose é mais um motivo para o seu controle com medicamentos.
Nozes para melhorar o fígado
As nozes são altas em ácidos gordos ómega-3. E estudos demonstram (10) que as pessoas com fígado gordo que comem nozes melhoraram a função hepática.
É no entanto importante reconhecer que o corpo humano não produz seus próprios ácidos gordos ómega-3 devido à falta de certas enzimas. Em vez disso, eles são obtidos através de dieta (por exemplo, peixe gordo, nozes, linhaça), suplementos ou alimentos enriquecidos com ómega-3.
Ómega-3
Estes alimentos apresentam propriedades protetoras, especificamente; peixe oleoso / óleo de peixe, café, nozes, chá, vinho tinto, abacate e azeite.
Alguns trabalhos têm mostrado benefícios do ómega-3 nos casos de esteatose, mas não da esteato-hepatite. Pacientes com triglicerídeos elevados também parecem se beneficiar. Porém, estudos mais conclusivos ainda são necessários antes de podermos indicar o ómega 3 como tratamento efetivo para a esteatose hepática.
Alimentos que não deve comer
Há definitivamente alimentos que deve evitar ou limitar se tiver uma doença hepática. Esses alimentos geralmente contribuem para o aumento de peso e aumento do açúcar no sangue.
Doces e açúcares adicionados
Os açúcares adicionados podem contribuir para níveis elevados de açúcar no sangue e aumentar a gordura no fígado. Os açúcares adicionados são geralmente encontrados em doces, gelados, bolachas e bebidas açucaradas, como refrigerantes e bebidas de frutas.
Os açúcares adicionados também se escondem em alimentos embalados, assados e até café e chá comprados na loja. Evitar outros açúcares, como frutose e xarope de milho, também pode ajudar a manter a gordura no fígado no mínimo.
Alimentos fritos ou salgados
Este tipo de alimentos são elevados em gorduras e calorias e contribuem no aumento de gordura e risco de aumento de peso.
Comer sal em excesso pode causar redenção de líquidos no organismo, e está por trás da hipertensão arterial, pedras nos rins e da insuficiência renal, aumenta as chances das doenças autoimunes, agrava a osteoporose, afeta o paladar e acelera o envelhecimento. Limite o sódio a menos de 1.500 miligramas por dia.
Adicionar extra especiarias e ervas a uma refeição é uma ótima maneira de fazer com que os alimentos sejam saborosos, sem sal. Os alimentos fritos geralmente podem ser cozidos ou cozidos no vapor.
Grãos refinados
Os grãos processados e refinados estão presentes em pão branco, massas e arroz branco. Geralmente branco, significa que a farinha é altamente processada.
Esses grãos altamente processados tiveram sua fibra removida, o que pode elevar o açúcar no sangue à medida que eles são assimilados no organismo.
Os grãos refinados podem ser facilmente substituídos com alternativas de trigo integral e grãos inteiros, batatas ou legumes, ou omitidos por completo.
Carne vermelha
As carnes vermelhas ou porco são altas em gorduras saturadas, que uma pessoa com fígado gordo deve tentar evitar. Carnes magras, peixe, tofu ou tempeh fazem boas substituições, mas peixes selvagens e oleosos podem ser a melhor escolha.
Álcool
O álcool é um factor de risco significativo para pessoas com doença hepática. O álcool afeta o fígado, contribuindo para doenças do fígado gordo e outras doenças do fígado, como a cirrose.
A suspensão do consumo de álcool é extremamente necessária para evitar que uma esteatose evolua para esteato-hepatite e cirrose hepática. Pessoas com sinais de acúmulo de gordura hepática devem evitar por completo as bebidas alcoólicas.
Provavelmente pequenas quantidades de álcool, ingeridas esporadicamente, não devem fazer mal, porém, não sabemos a dose mínima segura nestes casos. Como boa parte dos pacientes com esteatose provocada por álcool estão habituados a ingerir grandes quantidades de bebidas alcoólicas, o ideal mesmo é educá-los a evitar a bebida por completo.
Tratamento da esteatose hepática
Múltiplos tratamentos têm sido investigados para o controle da esteatose hepática. Porém, poucos apresentam resultados cientificamente comprovados.
O alvo deve ser o tratamento dos fatores de risco citados acima. A fase de esteatose pode ser reversível apenas com alterações dos hábitos de vida.
A perda de peso é possivelmente a medida mais importante. Todavia, deve-se limitar a perda de peso ao máximo de 1,5 kg por semana para evitar uma piora do quadro. A prática regular de atividade física também ajuda muito, pois diminui o colesterol e aumenta o efeito da insulina no organismo.
Boa Saúde!